domingo, 12 de setembro de 2010

Enfim, faculdade.

Um ano da sua vida "jogada fora", segundo alguns. Dias e mais dias preocupado com os estudos, fórmulas de matemática, teoremas físicos, postulados químicos, leis biológicas, decorebas gramaticais, redação... Final de semana? Simulado. Feriadão? Aula extra. Festa no final de semana? Em casa tentando manter a matéria em dia. O ano de quem quer passar no tão temido vestibular é terrível aos olhos de qualquer um; é, porem, a luta que mais vale a pena. No fim é você contra você mesmo e a recompensa, deveras gratificante.
Final de ano. Correria. Vestibular. Resultados. Listão. Você passa, um sentimento incrível e indescritível toma conta de sua pessoa. Não sabe se ri, se chora, se grita ou se sai correndo sem saber pra onde vai. Familiares se reúnem, amigos surgem de todos os lados até mesmo aqueles mais pessimistas agora dizem que sempre sabiam que você iria passar e todos querem dar os parabéns ao mais novo universitário.
Férias. Você vê a oportunidade de fazer tudo que não pode fazer no tempo de cursinho e pré-vestibular. Saí, fica até de madrugada acordado, bebe, tira a carteira, faz festa. E como sente falta de alguma cultura lê leituras não obrigatórias - não tanto como gostaria, pode acreditar -, vê vários filmes e perde a conta das séries que viu. Faz planos, vai pra balada, marca encontros com os amigos, despreza as apostilas, talvez até jogue-as fora ou doe-as para algum parente. E o tempo vai passando, e um sentimento estranho começa a surgir. Você fica de saco cheio por não ter nada pra fazer mas também não tem vontade alguma de fazer alguma coisa. Acostume-se - a não ser que faça intercâmbio, isso acontecerá -. O tédio começa a tomar conta da sua vida. Começa a sentir falta de uma rotina, sente falta do cursinho mas acha-se tolo, pois não se imagina mais lá novamente.
O grande dia chega. Enfim a vida universitária começa. Tenha algumas certezas: você será pintado na primeira semana, e vai ser divertido, acredite. Fará vários amigos de uma só vez, pedirá dinheiro com alguns nas sinaleiras por onde passar. Saiba que a faculdade começa a entrar na sua alma a partir do momento em que começa a converter em ru's o que você gasta em alimentação em outros lugares e além disso, quando não conseguir se ver parado sem ter uma vontade de jogar cartas.
As coisas começam a entrar nos eixos. Aulas irão dar sono, alguns professores faltarão às vezes. Seu humor começará a mudar e irá rir quando falarem em piano - lembranças o levarão à aula do mestre Diogão e a sua loucura sã -. Ficará inconformado ao estar na terceira semana de aula e muitas aulas para estudar e forames pra decorar e andar pela faculdade e ver que algumas pessoas ainda estão levando trote. Começa a ver que sobra aula e falta tempo pra estudar e pensa em como será nas semanas de prova - se assusta e pensa em outra coisa-. Festas. Ah, sim, haverão muitas festas, só precisa de alguma desculpa como um aniversário atrasado há meio ano ou, às vezes, nem isso, se reúnem pra confraternizar mesmo. E não se preocupe tanto com o tempo, haverá tardes e alguns finais de semana ociosos, acredite.
E, enfim, mesmo você sabendo que é tudo corrido, que é você que precisa correr atrás das coisas e que os professores não se vem te procurar. Que você passará noites em claro decorando proteínas e estudando pra prova do dia seguinte. Você sabe, você sente, você percebe que está na faculdade e esta será, muito provavelmente, a melhor fase da sua vida. Só cuide pra não deixar a medicina atrapalhar sua faculdade.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Vírus verde-amarelo


É esporádico. De quatro em quatro anos manifesta-se um vírus em praticamente todos os brasileiros. Costuma ser de fácil contágio e sempre tem uma divulgação grotesca na mídia. Há certos momentos onde apresenta sintomas máximos, para-se de trabalhar, a circulação de automóveis quase cessa, encerram-se turnos em bancos, escolas e tantas outras instituições..

Dois dos maiores sintomas e uma curiosidade, até agora não explicados, são: a ojeriza ao azul e branco e a obsessão pelo verde e o amarelo. Camisas, bandeiras, faixas, tintas; tudo falta nas lojas e departamentos. O outro são os inúmeros televisores vendidos, a indústria comemora, as ações valorizam, o PIB sobe, o governo arrecada mais e a saúde e educação ficam na mesma. E ainda, curiosamente, segundo estatísticas informais, nove meses depois da manifestação viral o número de registros de nascimento aumenta consideravelmente.

No meio a essa crise de saúde pública surgem, também, sentimentos bons, gratificantes. As amizades se fortalecem, as pessoas são mais solícitas e solidárias, os problemas externos ficam meio esquecidos, as pessoas conseguem ficar mais de 90 minutos presas à uma tela com transmissão ao vivo com o único objetivo de poder gritar uma única e simples palavra: Goooooool! Nesse momento uma imensa onda de adrenalina eclode no interior de cada indivíduo contaminado; e todos, em uníssono, explodem em alegria, não importando raça, credo, cor, sexo ou faixa etária. Todos são amigos próximos e o que os liga nesse laço são onze homens e uma bola de futebol.

Aos poucos, todos vão voltando à rotina normal, o tempo passa e o verde-amarelo volta ao armário, as pessoas voltam a se preocupar com seus problemas, voltam a não valorizar as amizades e o vírus então entra em estado de latência, pronto para se manifestar novamente dentro de, aproximadamente, quatro anos. Pesquisas recentes apontam para um risco de pandemia na região leste da América do Sul, quando o vírus voltar à ativa.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A rua e sua irrequieta vida

Uma, duas, três pessoas passam apressadas na rua. Quatro, cinco, seis pessoas passam sem serem notadas na rua. Sete, oito, nove pessoas que se conhecem passam sem se falarem na rua. Dez, onze, doze pessoas perdem alguma coisa na rua. Treze, catorze, quinze pessoas jogam lixo na rua. Dezesseis, dezessete, dezoito pessoas pedem esmola na rua. Dezenove, vinte, vinte e uma pessoas vendem balas na rua. Vinde e duas, vinte e três, vinte e quatro pessoas fazem teatro na rua. Vinte e cinco, vinte e seis, vinte e sete pessoas são assaltadas na rua. Vinte e oito, vinte e nove, trinta pessoas vivem na rua.

E a rua? Bem, a rua é só uma rua e nunca deixará de ser uma rua. Mas mesmo sendo rua, ela dá abrigo a quem precisa, dá dinheiro a algum sortudo, indica o caminho pra alguém perdido, dá trabalho a quem, por ventura, necessitar, oferece um local de encontro aos amigos e ainda pode ser fonte de cultura. No fim, acho que a rua é mais humana do que os humanos que passam por lá.

quarta-feira, 17 de março de 2010

"E Deus fez o homem a sua imagem e semelhança."

Com vocês, redação que me colocou na faculdade õ/

Seja nos princípios religiosos, na evolução das espécies de Darwin ou em qualquer outra teoria que comprove o surgimento do homem, o início da convivência humana provocou, aos poucos, o surgimento de normas e regras com um intuito da boa convivência na sociedade. Lentamente, ao longo da história, criou-se uma consciência coletiva do certo e do errado. Surgem então, comportamentos ditos imorais ou, até mesmo, anti-éticos.
Muitas vezes, o que fere o bem comum e é visto como incorreto não é digno de punição. É um comportamento aceitável judicialmente mas, por alguns, condenável moralmente. As incivilidades estão presentes diariamente no meio em que vivemos. Sua não eceitação não é apenas moral. Há casos em que passa a ter consequências ambientais, como jogar lixo em locais não apropriados. Destinar o lixo ao seu destino correto é um ato de cidadania que, se não feito, pode gerar alagamentos e poluir os recursos naturais. Outro ato simples; prejudicial, entretanto, é desreipeitar as vagas preferenciais nos estacionamentos. Mesmo que o motorista esteja atrasado, usufruir de uma vaga destinada a deficientes, por exemplo, não o fará ganhar muito tempo e, por consequência, ainda provoca todo o transtorno a quem realmente precisa.
Há outros fatos, para os quais a sociedade instituiu punições, tornando-se, assim, ilegais perante a lei. Da mesma forma como acontece nas atitudes imorais, os comportamentos anti-éticos são prejudiciais à sociedade. De uma simples vantagem pessoal, a sonegação de impostos gera grandes transtornos. Grande parte dos recursos que, teoricamente, seriam destinados às demandas populacionais passam a não ser recolhidos. Saúde, educação, segurança e outros serviços passam a não mais disponibilizar a qualidade e a eficiência, às vezes, exigida pelos habitantes.
Todas as leis e regras criadas ao longo da evolução humana prezam a construção de uma sociedade harmoniosa. Acontecimentos que fogem do considerado correto - sejam eles dignos de punição ou não -, vão diluindo a harmonia com uma espécie de insatisfação coletiva. Impedindo, assim, a construção de uma sociedade sadia que, nos dias de hoje, é considerada praticamente utópica.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Um dia você aprende..

Um dia você aprende a ver e quando isso acontece tudo ao seu redor torna-se digno de atenção, todas as formas, cores e traços.
Um dia você aprende a falar e é como se o centro das atenções passasse a ser você. Qualquer grunido emitido torna-se uma palavra - normalmente 'papai' ou 'mamãe', visto o grau de puxa-saquismo dos pais.
Um dia você aprende a jogar futebol e de último a ser escolhido no timinho da escola passa, agora, a não ser tão deixado de lado.
Um dia você aprende que muitas coisas das que te falavam em casa não passam de histórias. Que o papai noel não mora no Pólo Norte, que o coelhinho da páscoa não existe e que crianças não brotam de pés de alface ou são trazidos por cegonhas.
Um dia você aprende que seus pais são, na verdade, seus melhores amigos e que sempre que você precisar, eles aparecerão pra te dar uma força e te levantar dizendo pra seguir em frente que tombos sempre acontecem.
Um dia você aprende que seus sonhos não são impossíveis, mas que para isso não adianta ficar esperando por um milagre, você precisa ir lá e dar o melhor de si.
Um dia você aprende a importancia dos seus atos, de que com eles podes tornar as coisas mais fáceis e felizes ou também o contrário. Podes ajudar uma velhinha a atravessar a rua, pensar antes de realizar uma tarefa pra minimizar esforços, brigar com amigos ou até magoar alguém próximo.
Um dia você aprende o valor da confiança, de como ela demora para ser construida e que, de uma hora pra outra, por algum motivo, ela pode ser reduzida a frações menores e que, para reconstruir tudo novamente, não é nada fácil.
Uma dia você aprenderá que tudo o que faz terá suas consequências e sejam elas boas ou ruins, elas estarão aí e não vão simplesmente desaparecer por mais que queiras, talvez, que isso aconteça.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Haiti - 12 de janeiro

Era terça feira, e como em toda terça feira, eu, meus irmãos e minha mãe íamos fazer as compras de casa. Comprávamos o imprescindível para a semana e, como o dinheiro estava apertado, não podíamos usufruir de muito luxo. Quando estávamos quase acabando as compras meu irmão falou - Mãe! Olha só, a lâmpada está balançando -, instantes depois, tudo começou a tremer. Produtos caindo, leite esparramando-se pelo chão, ovos quebrando... De início ninguém se deu conta do que estava acontecendo. Uns falavam no fim do mundo; outros, que estavam bombardeando a ilha. De um jeito ou de outro, foi terrível. As pessoas saíram desesperadas correndo, algumas conseguiram alcançar a saída. Foi aí que o pior aconteceu. O teto começou a cair, tudo veio abaixo, não se via mais nada tamanha a nuvem de poeira que se formou. Tentei, em vão, procurar meus irmãos e minha mãe. Acabei permanecendo em baixo de uma prateleira que ainda restava e fiquei rezando pra que tudo aquilo passasse. Naqueles momentos, só podia distinguir gritos, choro e desespero.
Após a poeira baixar, percebi que tinha permanecido, por sorte, numa área que não tinha sido muito afetada. E havia algumas pessoas - uma grande maioria ferida e todos abalados psicologicamente -. Quando vi que nem minha mãe e nem meus irmãos estavam entrem nós, entrei em desespero. Uma senhora abraçou-me e disse que tudo ficaria bem e que logo encontrariam minha família. Por mais que quisesse acreditar naquela mulher, eu via em seus olhos a desesperança. As primeiras horas foram as mais terríveis: pessoas morrendo, chorando, agonizando-se; umas queriam dar apoio às outras, mas no fundo, todos precisávamos.
Começou, então, a aparecer a fome e a sede. Como estávamos no supermercado, acharam uns mantimentos no meio dos destroços, mas não era o muito. Para não haver racionamento, os mais velhos deixavam de comer para os mais novos resistirem por mais tempo, ninguém sabia até quando ficaríamos sob a terra. As horas passavam correndo e eu não tinha a noção do quanto de tempo já havia passado, mas sabia que estava cada vez ficando mais fraco. Alguns não resistiram a espera e enquanto todos aguardavam somente um milagre para tirarnos de lá, ouvimos vozes vindo de algum lugar sobre os escombros. Alguns vibravam com as poucas energias que ainda lhes restavam, outros diziam uns aos outros que estavam salvos. No meio daquela alegria, fui ficando disperso, não distinguia mais as coisas, via apenas vultos e figuras disformes. Só lembro-me de uma moça dizendo que era para virem me ajudar que eu estava morrendo...
E então tudo passou, não sentia mais dor, sede ou fome. Era tudo claro, muito claro. Não sabia o quê fazer, nem onde ir. Até que ouço uma calma e bela voz que dizia: "Vinde a mim as criancinhas."

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Carta de demissão

No Reino dos Céus, 19 de janeiro de 2010


Prezado Senhor,


Sei que não gostas de notícias minhas – ainda mais depois da última vez que Nos falamos -, peço desculpas por atrapalhar Teu tão precioso tempo. Não Te chateia comigo, nem me puna. Leva em consideração o bom funcionário que fui. Sempre eficaz e fiel a Teu comando. Quero dizer-Te que tomei uma decisão.

Bem, de princípio vou explicar minhas condições e Te informar de certos acontecimentos. Eu já não consigo mais trabalhar sozinho. Já estou velho, trabalhei na época da peste negra, passei pelas duas grande guerras e, hoje, a cada dia que passa há mais pessoas morrendo. Um assassinato aqui. Um conflito lá. Simplesmente não sei mais o significado da palavra folga. Pior é agora que começou a circular por aí um tal de crack. Acabo mal tendo tempo para educar meus filhos. Já sou quase um estranho para eles.
Ah, saudades do tempo em que meu trabalho era valorizado. De quando era temido e respeitado por todos. Agora, já por várias vezes, faço o mesmo serviço duas vezes! Veja se há cabimento. Estes tais de médicos acham que podem ajudar a humanidade com suas maquininhas de choque e remédios milagrosos. Querem Te imitar e Tu, Todo Poderoso, nada fazes. Resta-me ir lá e, novamente, tirar a vida da pobre alma. Fico abatido com isso, vejo o sofrimento da pessoa quando me encontra uma outra vez. Confesso que nem eu gostaria de enfrentar o fim duas vezes.

Já tentei terapia. Conversei com meus amigos. Falei até com minha mãe. E bem, depois da Tua recusa a arranjar-me um ajudante, tomei uma difícil decisão. Vou pedir demissão. Aviso-Te com antecedência para que possa encontrar um substituto antes que descubram o acontecido e comecem a ocorrer abusos por aí. Já havia Te avisado desse risco e nada fizeste, não me sinto nem um pouco culpado. Agora vou ali, São Pedro está me chamando para deixar tudo acertado. Passar bem.

Atenciosamente,

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O crime

Era noite. Um sujeito pleonástico estava nos arredores dos adjuntos adverbiais. Encontrou, de repente, uma partícula apassivadora. Ele sabia que esse aposto não deveria estar aí. Observou tudo a sua volta, prezando todos os detalhes. Ah - pensou - deve ter sido aquela vernácula que deixou isso aqui. Deixou por isso e resolveu sair. Caminhou por todo o complemento nominal. Por fim, deparando-se com uma antítese, viu um acento circunflexo, resolveu aproveitar para relaxar seu pronome ali. Mas que droga - falou - isto aqui é desconfortável! Acabou sentando no acento diferencial mesmo. Um pouco afastado daí, um artigo indefinido chamou-lhe a atenção. Resolveu averiguar, seguiu a onomatopéia deixada. Chegou, finalmente, defronte um hipérbato. Ficou indeciso entre continuar o caminho ou deixar tudo aquilo de lado. Ah - arrebatou - isso pode até terminar em mesóclise, mas dane-se, irei encontrar esse sujeito oculto! Seguiu pelo monossílabo caminho e estacou. Não podia crer, em meio aquela aglutinação não havia ninguém. O agente da passiva era, na verdade, um sujeito inexistente. Então virou-se e morreu com um objeto direto na cabeça.
As Crônicas de Gelo e Fogo